sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Brotas

Acho até que foi o sinal quem fez ele parar pra notar o quanto amava aquilo ali. Na Bahia a gente chama o semáforo de sinal, que é o radical de sinaleira. Mas radical mesmo era o calor que fazia. Chegara enfim a onda de calor do ínicio de outubro, mês de renovações, invadindo o ambiente; e dentro daquele carro meio frio e meio fervendo ele ouvia a meio volume “a sombra que me move também me ilumina / me leve nos cabelos, me lave na piscina / De cerda ponto claro, cometa que cai no mar / De cada cor diferente que tente me clarear / É noite que vai chegar, é claro, é de manhã, é moça e anciã...”Parado na faixa da direita pôde observar uma menina de cabelo amarrado no alto da cabeça. Eram duas amarras em um cabelo bonito: marrom e com alguns cachos volumosos, que presumiu ele que ela não gostava tanto, pra estarem presos. Deveria ter uns 10 a 12 anos e usava uma camisa falsificada do Bahia. Ah sim... ela estava parada esperando para atravessar a rua, à direita dele que estava disposto a esperá-la, grato pela alegria que ela passava, simplesmente por estar ali, coçando a cabeça com a mão esquerda e segurando a mão do seu respectivo adulto com a outra mão, a direita.Um pouco mais a frente deu passagem a um táxi que aguardava para cruzar a pista. Seria engraçado ver os 4 passageiros agradecerem, se não fosse simplesmente mágico. E seguiu seu rumo...Tanta menina bonita, diferente das que estava acostumado a ver. E a alegria agora já se espalhava mais ainda pelo seu corpo, a ponto do calor se tornar confortável e essencial. Fazia parte daquele ambiente, daquela composição que lhe causava tanto bem. Era como se quisesse viver cada detalhe daquele lugar sempre lhe deixava em êxtase, embora nunca tivesse parado pra pensar tanto a respeito. Eram as meninas dali tão bonitas. Até os buracos que eram muitos, espalhados pelo asfalto o faziam pensar o quanto o afastamento do governo daquele bairro o tornava tão mais lindo. Diziam até que lá era muito alto. Quem sabe... Sabia que as meninas de lá eram muito bonitas, meninas diferentes. Mas ele pensava nas simples, ah meninas tão simples, como queria ser simples daquele jeito pra poder entrar em vosso mundo. Mas ele tinha noção que quanto mais simples, mais complicado de ser se era...Depois até parou pra pensar que as meninas de lá, as que não eram as simples que ele estava pensando, isto é, as outras que lá viviam, de passagem ou não, também eram bonitas e diferentes.Parou, desligou o som que a essa altura cantava “Entre as estrelas do meu drama / você já foi meu anjo azul...”, comeu e dormiu um sono próprio daquele lugar. Depois acordou e viu dentro de casa uma menina daquele lugar, tão linda quanto as outras. Tinha uma tatuagem bonita... vermelha.Depois dirigiu denovo, ainda sonolento e foi ficando cada vez mais triste, a medida que se distanciava daquele lugar.

4 comentários:

Anônimo disse...

As ruas de Brotas são rua de gente! =)

Anônimo disse...

tão bonito...

Anônimo disse...

"Talvez eu volte
Um dia eu volto
Quem sabe!"

Anônimo disse...

lindo! lindo! meu aplauso