domingo, 3 de junho de 2007

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E lá estava a florzinha amarelinha, balançando com o vento forte que deu de tarde. Era daqueles pezinhos de flor único: duas folhas embaixo, um caule longo e uma flor amarela na ponta. As vezes até oculta para um observador desatento, mas não para a maior parte da vizinhança. Todos eles sabiam que ela era a rainha. Estava ali não balançando. Estava reinando. Administrando o seu campo, cuidando de cada detalhe das cercanias tangidas pelas distantes muralhas, sempre cercada de amigos.
Seus amigos eram outros reis. E os reinos que a ti eram amistosos eram muito próximos, não só em distancia física. Existia perto da florzinha uma placa, que indicava onde era cada um desses sítios. É bem sabido, é claro, que as vezes as placas ficavam um tanto quanto caducas. É que as vezes algum rei tirava férias, ou se mudava de reino. Ou simplesmente morria, ou deixava de reinar...
A florzinha, para melhor administrar o seu território, certa feita colocou uma coruja pra contar quantas pessoas passavam por ali por dia. Apesar de meio atrapalhada, e de tantas vezes perder as contas, a coruja foi muito útil e pôde mostrar com precisão que o reino andava querido, e que as pessoas atalhavam cada vez mais por ali...
Por hora deixavam registros. Queriam eternizar sua passagem por aquele local no mínimo agradável. É que a florzinha havia mandado decorar tudo ali com as mais simples cores, usando a paleta do amor e da concisão, tudo isso regado com muita ironia.
E eu tenho pra mim que o maior motivo pelo qual as pessoas passavam por ali não era o reino, não era o local, não eram as cores, e nem tampouco a florzinha, e sim as histórias que ela contava. Falava muito sobre a vida. E inventava algumas vezes, mas na maioria delas relatava algo que de fato aconteceu. Dessas histórias, ela gostava mesmo era de falar de amor. Chegava até a recitar, as vezes. Mas ela e todo mundo sabe que suas histórias inesquecíveis eram contadas em prosa, em tom cotidiano, como o que havia feito no dia anterior ou o quão gostoso estava o cozido do almoço, que ela havia comido todo amassadinho.
E de uns tempos pra cá a florzinha começou a perceber uma coisa: percebeu, mas dessa vez não quis contar pra ninguem. Ficou um pouco nostalgica, e ainda imperceptivelmente começou a contar suas histórias em folhetin, fazendo um verdadeiro testamento, sem ninguém sequer notar. E ela sumia. E demorava pra voltar. Até contava ainda muitas histórias, mas a verdade verdadeira é que estava mais timida. Mais timida e morrendo. E foi assim que no alvorecer dos seus 54 posts sentiu que era hora de sua despedida.
Em dia igualzinho aos outros, esperou o sol nascer cedinho como sempre, e começou a contar a sua história derradeira. Falou de um tal de reino, de uma tal de vizinhança, e até de uma tal de florzinha. Agradeceu de coração a todos que lhe acompanharam em sua vida e depois se despediu. Murchou sobre si mesma e muito rapido virou adubo. Logo depois chuveu, mas ninguém chorou, em respeito ao seu próprio pedido. E devagazinho, bem no fundo daquele solo escuro uma sementinha começou a se mecher, abandonando uma latencia e com muita vontade de brotar. Mas aí eu já não sei o que aconteceu ou o que vai acontecer; acho que é porque ainda não domino muito bem essas coisas de previsão...

7 comentários:

Anônimo disse...

A florzinha... Não tem como se prever coisas, aliás, nãos eriam previsões de fato. Enfim... Bom ver atualização. :)

Anônimo disse...

espero então o vento dizer onde vai dar esse jardim...

Anônimo disse...

Metáfora no mínimo inusitada.
História no mínimo triste.
Mas me fez sorrir, afinal...

Le Cadeau Rose disse...

Fui recepcionada da melhor forma possível(também me fez sorrir),gosto de despedidas e ainda mais de renovações.
Definitivamente, possuem razão...!
Beijão,
Lela

Anônimo disse...

uma bela flor,com uma bela subjetividade. eu sempre estava no reino, ouvindo suas historias prosaicas, sensíveis, belas, sinceras... deixe estar :) ..

Anônimo disse...

naaaooo nada de ponto final... =/ agora q voltei vou ter q ler todos os posts q perdi..ehehehe...amiga desnaturada essa sua.. ;P Bjuuu

Anônimo disse...

já disseram tantas coisas bonitas ai em cima e eu tenho tao pouca habilidade em dizer essas coisas...

belo triste fim.

=]


te adoro, meu amigo!