sozinho

"...que a chuva caia sobre todo o meu teto e eu não possa fazer nada..."

Eram quatro meninos. Talvez não mais meninos, mas eram quatro, como antes. Estavam mais uma vez juntos, como orgãos de um sistema, como partes de uma alma que brilha e atrai muitas coisas boas para pertinho de si. Não há quem diga que um dia não se sentiu muito bem só por estar do lado desse cosmo.

E lá estavam eles quatro, também bebendo, dessa vez. Não tanto quanto bebiam. Entrava ano e saia ano e eles se prometiam que se dariam presentes ao aniversariar os seus nascimenstos. É claro que não cumpriam; mas naquele dia todos se presentearam com os objetos mais queridos que tinham, naquele amor que se traduzia materialmente, naquela hora.

E os quatro homens conversavam sobre tudo, como sempre faziam, só que dessa vez com certeza era pra evitar o assunto principal, motivo pelo qual estavam reunidos naquele dia. Ja se reuniram tantas vezes e por tantos motivos. Quase sempre tomando uma cervejinha, fumando um cigarrinho... Se encontravam ao acaso, se encontravam pra rir e comemorar. Se encontraram tambem algumas vezes pra chorar, pois sabiam quais eram os ombros que estavam disponíveis a qualquer hora do ano inteirinho. E sempre choravam juntos também.

E os quatro irmãos estavam ali, mais uma vez reunidos, dessa vez não sem qualquer motivo. Não por qualquer motivo. Sempre tiveram outros amigos e sempre tiveram muito ciúmes, mas no fim tudo ficava bem, pois sabiam que eram de fato irmãos. Marcas de cigarro, tatuagens secretas, troca de sangues...

Lá estavam aquelas almas iguais, se preparando pra ficar distantes uma da outra. É claro que saberiam (tentariam) se virar sozinhos, mas cada um tinha certeza que um sistema não funciona bem sem um de seus orgãos; um dominó não tem fim sem uma de suas pedras; uma constelação não brilha intensa sem uma de suas estrelas...

E naquela noite cada um deles chorou baixinho e dormiram um sono cansado e descrente.